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O sofrimento e a existência do mal no mundo em que vivemos é uma das mais importantes, senão a mais importante questão para a filosofia da religião. É aquilo que os filósofos da religião costumam chamar de "teodiceia" ou "problema do mal". O problema do mal pode resumir-se assim:
Se Deus é bom e todo-poderoso, mas existe mal e sofrimento no mundo, então ou Deus não é bom ou não é todo poderoso.
Ou Deus não é bom, porque podendo eliminar o mal do mundo não o elimina; ou não é todo-poderoso, porque efetivamente não pode eliminar o mal do mundo.
A tradição judaico-cristã tentará solucionar o problema do mal apontando algumas possíveis respostas:
1. O mal e o sofrimento são punição de Deus para o pecado do povo (explicação dada pelos profetas).
2. O mal e o sofrimento são causados pelos homens quando estes querem oprimir e agredir seus semelhantes (outra explicação dada pelos profetas).
3. O sofrimento é um teste que Deus faz para ver se permaneceremos fiéis. Teste de fidelidade #sóquenão (livro de Jó).
4. Não temos como responder a questão do mal e do sofrimento, pois ela esbarra em nossas limitações de compreensão e entendimento (Salomão ou o autor de Eclesiastes).
Quando eu era mais jovem tais questões quase me fizeram perder a fé. Entretanto algumas descobertas me fizeram recobrá-la. Ela renasceu como uma fé nova e experimentada. Não mais uma fé ingênua, porém uma fé experimentada e amadurecida:
* Descobri que para o cristianismo, entronar a Razão tal como fizeram os meu pares-filósofos de outrora, equivale a tropeçar na arrogância e na soberba. E, como dizia Agostinho: "a soberba é a raiz de todos os males". A soberba leva-nos a tratar mal os semelhantes uma vez que julgamo-nos superiores.
* Conheci a teologia negativa. Existem fundamentalmente duas formas de se fazer teologia: teologia afirmativa e teologia negativa. Enquanto a teologia afirmativa busca compreender Deus via razão e inteligência natural, a teologia negativa diz que não se pode conhecê-Lo por tais meios. Isto porque por mais elaborados que forem os raciocínios ou as metáforas utilizadas, elas sempre estarão muito aquém daquilo que Deus realmente é.
Observe, por exemplo, um argumento da Suma de São Tomás ou uma escultura de Aleijadinho. Por mais que busquem dizer ou comunicar algo sobre a divindade, eles nunca conseguem dizer tudo o que almejam. Deus está para além dos raciocínios e das metáforas. Ou, dito de outro modo "Deus está para além de Deus".
Então quando formos falar sobre Deus é melhor tomarmos cautela e falarmos apenas negativamente. Ao invés de tentar descrever o Inefável, falemos apenas assim: Deus não é isso, não é aquilo, nem aquilo outro. Afinal, tudo o que podemos saber sobre Deus é o que Ele não é. Já que no mundo aparente, nada se parece ou APARECE semelhante a Deus.
Cabe portanto, aproximarmo-nos do Mistério não mais via razão e conhecimento, e sim, pelo silêncio e amor.
* Deus não existe. Compreendi definitivamente que Deus não existe. Deus não existe tal como uma cadeira, uma mesa ou uma pessoa existem. Isto porque Deus é de outra ordem; uma ordem que está para além da existência. Deus não é da ordem do existir; Deus é da ordem do Ser. DEUS NÃO EXISTE, DEUS É. E eu? Bem,... eu oro para Ele todos os dia, seguindo a orientação de Jean-Yves Leloup.
* E, finalmente, compreendi que o problema do mal não pode ser resolvido teoricamente. Se você está realmente incomodado com o mal e o sofrimento, vá as ruas e dê comida a quem tem fome; vá aos presídios e conforte os presos; vá aos lugares carentes e periferias, pois é compadecendo-se do próximo que você efetivamente coopera com Deus para restaurar um mundo tão sofrido e marcado pelo mal.
* Aquele que sofre não precisa de teorias sobre o problema do mal, e sim de um abraço. Então, abrace hoje quem estiver perto de você!
Para saber mais:
Título: Deus não existe!... eu rezo para ele todos os dias.
Autor: Jean-yves Leloup.
Editora: Vozes.
Título: O Problema com Deus: As respostas que a Bíblia não dá ao sofrimento.
Autor: Bart D. Ehrman.
Editora: Agir.
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