segunda-feira, 17 de junho de 2019

O cristão pode meditar?


Candlemas Day.
Pintora: Marianne Stokes.
1901.



Hoje é muito comum ouvirmos falar dos benefícios da meditação ou daquilo que estão chamando de mindfulness ou atenção plena. A meditação consiste em sentar-se confortavelmente e respirar profundamente, expirando lentamente à medida que se pronuncia uma palavra curta, de duas sílabas, por exemplo. 

Eu aprendi a meditar em duas ocasiões e de formas diferentes. Aprendi-o numa das salas utilizadas na Faculdade São Bento que fica ao lado do Mosteiro de São Bento, em São Paulo. E, aprendi-o também num ashram vaishnava (hindu), também em São Paulo. Mas para nosso objetivo aqui, que é falar sobre meditação para cristãos, ater-me-ei apenas ao que aprendi da minha tradição.


Lembro-me de entrar na sala da faculdade e após um breve exercício de relaxamento e alongamento, sentarmo-nos todos, cada qual em seu lugar e, após inspirar profundamente, soltávamos o ar devagar pronunciando a palavra “mara-nata”, que quer dizer “ora vem Senhor Jesus”. Repetíamos isto por meia hora, meditando no Senhor. Até que finalmente absortos, ficávamos inteiramente concentrados e ao mesmo tempo relaxados. Esta técnica que é muito semelhante a uma meditação zen budista, recebe o nome de jaculatória. É a oração breve que penetra os Céus.


Então, o cristão não só pode como deve meditar. Repetir uma oração breve, respirando profundamente, ajuda-nos não apenas a relaxar das tensões do dia, mas principalmente, a nos conectarmos com Deus.  


A meditação ou oração centrante tal como é mais conhecida, tem sua entrada no cristianismo a partir do século 11 com os chamados Padres do Deserto. Os Padres do Deserto, cansados das elaborações mirabolantes e por vezes enfadonhas dos grandes teólogos e acadêmicos, decidiram ir para o deserto meditar (ou orar, para usar nosso jargão). Eles queriam encontrar Deus e unir-se à Ele. Julgavam, porém, que isto não era possível lendo os argumentos de Pedro Abelardo, Guilherme de Ockham ou a Suma Teológica de São Tomás de Aquino. Julgavam que por mais elaborados que fossem os argumentos e silogismos acerca de Deus e Seus atributos, ainda assim, eles estariam sempre aquém daquilo que Deus realmente é.


Imagine por exemplo um astro do rock. Você tem um amigo que jamais ouviu suas canções ou mesmo viu seu jeito de dançar ou suas feições. Então você explica para o seu amigo como é maravilhoso o seu ídolo do rock, como canta e dança, e como é boa pinta. Você até escreve um pequeno texto e desenha o seu astro preferido. Todavia, seu amigo jamais irá conhecê-lo a menos que vá a um show e ele mesmo tenha uma experiência com seu astro. É isto o que acontece quando tentam nos falar sobre Deus. Podemos ouvir até mesmo as explicações de um grande teólogo como Pedro Abelardo, Agostinho ou Tomás de Aquino, mas jamais compreenderemos Deus a menos que tenhamos uma experiência pessoal com Ele (da mesma maneira que seu amigo num show do astro do rock). 


E é justamente isto que queriam ensinar os Padres do Deserto: “chega! Os grandes teólogos falam muito bonito e explicam quem é Deus e quais são Seus atributos, mas nós só O compreenderemos quando tivermos uma experiência com Ele. Então vamos com entusiasmo (!), vamos experimentá-lO aonde Ele está: no silêncio de nossas almas, na quietude interior – no interior do interior. Em nosso eu mais profundo – nossa alma. E, qual o melhor lugar para fazermos este mergulho? No deserto! Vamos para o deserto mergulhar em nós e encontrar Deus ali.


Agora, para meditar em Deus não utilizaremos silogismos, argumentos, nem muitas palavras. Ficaremos sentados em silêncio, inspirando profunda e lentamente e, ao expirar, pronunciaremos uma palavra curta como “Je-sus” ou “mara-nata”. Esta é uma técnica de oração centrante (ou contemplativa), que serve para acalmar a mente das agitações do cotidiano por um lado, e aproximarmo-nos do Senhor, por outro. 


Mas arguir-me-ão: “isto não tem fundamento nas Escrituras!”. Ora, tem sim! Grandes místicos utilizaram o episódio narrado no Evangelho de Lucas 10:38-42 para abordar a meditação cristã. Dentre eles mencionamos alguns: Mestre Eckhart em seu oitavo sermão; Santa Teresa de Jesus num dos capítulos finais de Castelo Interior, e o cartuxo anônimo autor de A Nuvem do Não-Saber


Em Lucas 10:38-42 o evangelista diz que Jesus, passando pela cidadezinha de Betânia, entrou na casa de Marta. Enquanto ela estava ocupada em preparar-lhe a refeição e aprontar a casa, Maria – sua irmã – sentou-se tranquilamente para ouvi-lo. Os místicos e Padres do Deserto interpretaram este episódio dizendo que embora Marta tivesse criticado duramente Maria, foi ela quem escolheu a parte boa. Marta passou então, para a tradição cristã representando àqueles que optam por uma vida mais ativa, cheias de ocupações e obras de caridade, e Maria, àqueles que optam por uma vida mais contemplativa – uma vida de oração, quietude e meditação.


Disto, auferimos serem duas as maneiras de aproximarmo-nos de Deus, ou melhor, poderíamos dizer que são três: (i) teologia afirmativa (os argumentos extensos de teólogos renomados), (ii) teologia negativa (a oração centrante e meditativa dos Padres do Deserto), e (iii) as obras de caridade e misericórdia (vida ativa). Ou, dito de modo mais simples: (i) pensar e escrever sobre Deus, (ii) orar e meditar respirando profundamente e (iii) fazer coisas, ajudar, consolar, visitar presos e doentes.


Agora sim, alguns poderão dizer que o cristão que não é de tradição católica não pode meditar. Que a interpretação dos Padres do Deserto para o episódio de Marta e Maria diz respeito somente aos católicos. Mas considerando o catolicismo a Igreja mãe, eu perguntaria: por que não? Por que não aproveitar o lado bom do catolicismo? Aquilo que nos legou de bom e proveitoso?


E, se você não é dado à meditação, poderá achegar-se a Deus de outras formas; fazendo caridade, por exemplo, ou simplesmente sendo amável com o vizinho, que é seu próximo. 



Para saber mais:


Título: A Nuvem do Não-Saber.
Editora: Vozes.
Autor: desconhecido.

Título: A Scala Claustralium.
Editora: Subíaco.
Autor: Guigo II.

Bíblia Sagrada.
Evangelho de Lucas 10: 38-42.

Título: Castelo Interior.
Editora: Vozes.
Autor(a): Teresa de Jesus.

Título: Os Sermões Alemães Completos.
Site: <https://caminhodomeio.files.wordpress.com/2009/06/meister-eckhart-os-sermoes-alemaes.pdf>.
Autor: Mestre Eckhart.



sábado, 11 de maio de 2019

O discípulo de segunda mão

Migalhas Filosóficas
Editora Vozes
Sören Kierkegaard
3ª edição
Em sua obra de 1844 intitulada Migalhas Filosóficas, o filósofo cristão Sören Kierkegaard pergunta se os discípulos que conviveram com Jesus e tiveram contato pessoal com o mestre teriam privilégio em relação a nós que não convivemos com Ele. A mesma pergunta aparece em Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra como Escritor

Nas Migalhas Filosóficas, Kierkegaard chamará a nós, discípulos que não conheceram o mestre, de discípulos de segunda mão, ao passo que em Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra como Escritor, o filósofo distinguirá duas figuras: o gênio e o apóstolo.

No primeiro caso, acerca do discípulo de segunda mão, o filósofo mostrará que ter Jesus como mestre não é parecido nem de perto com ter outro tipo de mestre, professor ou mentor. Para quem tem como mestre um exímio professor de filosofia, por exemplo, tal como Sócrates ou outro qualquer, basta fazer uso da razão e assim, apreender os conteúdos apresentados por seu mestre. E quando a apreensão dos mesmos lhe parecer difícil, basta que, num esforço por lembrar-se, encontre a verdade que estava escondida dentro de si mesmo. Há, portanto, aqui, uma perfeita sincronia entre mestre-e-discípulo.

A perfeita sincronia entre mestre-e-discípulo ocorre porque ambos estão dentro da História. Eles estão, portanto, no mesmo “lugar”. E a mensagem ou verdade transmitida de um a outro, é também acessível por estar dentro de cada um, bastando apenas relembrá-la ou “puxá-la” para fora, fazendo-a vir à tona. Mais ou menos como num insight, cujo nome técnico-filosófico é reminiscência. A função do mestre aqui é justamente esta: ajudar o discípulo a “puxar para fora” verdades que foram esquecidas e estão escondidas debaixo do “tapete da consciência”.

Já no caso de termos Jesus como mestre a situação se mostra completamente outra. Primeiramente porque mesmo quando Jesus esteve com seus discípulos e com eles conviveu, sempre houve uma distância abissal entre mestre-discípulo. Podemos verificar isto nas inúmeras vezes em que Jesus não foi compreendido por seus próprios discípulos. Não falo nem de seus contemporâneos, mas somente de seus discípulos, que é a relação importante para nós aqui.

Então, no caso de Jesus, não há uma perfeita sincronia entre mestre-discípulo (mesmo quando ambos estavam, por assim dizer, dentro da História e no mesmo lugar). Ao contrário, há entre mestre-discípulo um abismo enorme e radical: o mestre é perfeito, o discípulo imperfeito; o mestre é eterno, o discípulo busca salvação (felicidade eterna); o mestre é a encarnação da Verdade, enquanto o discípulo busca a verdade.

Entretanto, se no caso de um mestre genial tal como um exímio professor  ou mesmo Sócrates, a verdade poderia ser encontrada e acessada apenas por um esforço de recordação e de “puxá-la para fora”, tornando-a visível ao discípulo, no caso do mestre-eterno, a Verdade não pode ser encontrada por mera recordação, uma vez que a verdade não está dentro da pessoa, nem na História para que possa ser descortinada, mas está fora do tempo. Então, o discípulo só terá acesso a Verdade por meio da revelação, a qual se dá num instante. E este instante é o momento aonde milagrosa e paradoxalmente, o Eterno se encontra ou encarna no temporal. Jesus é a Verdade encarnada, neste instante milagroso aonde o Eterno (Jesus Cristo), encarnou e revelou-se no tempo!

O conhecimento transmitido por um mestre ordinário, por mais genial que seja, é um conhecimento muito diferente do conhecimento transmitido pelo mestre-Jesus. O primeiro tipo de conhecimento pode ser alcançado pelo uso da racionalidade, num exercício de reflexão de “trazer o conhecimento à tona ou para fora”. Nesta relação, mestre-e-discípulo estão em perfeita sincronia como já foi dito. Porém, o conhecimento transmitido por Jesus, o mestre-eterno, é um conhecimento atemporal que diz respeito à salvação e à felicidade eterna. Tal conhecimento não pode ser acessado por meio da razão, nem do empenho intelectual ou da recordação, mas somente por meio da fé, que capta a revelação da Verdade naquele instantezinho milagroso aonde Deus que é eterno faz-se concreto e presente no tempo. 

O conhecimento transmitido por um professor de filosofia tal como Sócrates, pode formar um estudioso ou um gênio, mas jamais um crente. Um crente e um homem de fé só pode ser formado pelo tipo de conhecimento transmitido por Jesus. O primeiro tipo de conhecimento pode formar no máximo um gênio, mas o segundo tipo, forma um apóstolo.

Sendo assim, não importa se somos discípulos de segunda mão. Se não convivemos com Jesus o nazareno (Paulo apóstolo também não conviveu). O que importa é se temos fé capaz de fazer com que apreendamos em nosso íntimo a revelação da Verdade no instante em que milagrosa e paradoxalmente o eterno se encontra no tempo. E isto não acontece todo dia! E quantos homens conviveram com Jesus, comendo e proseando com o mestre, sem jamais apreender esta doce Verdade: Deus encarnou e está entre nós! Por ele temos salvação e felicidade eterna!

Regozijemo-nos, pois, se mesmo não tendo visto nem convivido com Jesus nazareno, fomos agraciados com a fé de compreendermos esta Verdade. Porque assim aprouve a Deus encurtar a distância abismal entre mestre-discípulo. Regozijemo-nos redobradamente, pois quantos contemporâneos de Jesus não foram agraciados com a mesma fé com que nós fomos agraciados! Fé esta, que não provém do conhecimento, mas da vontade. 

A fé é sempre um ato deliberado e de decisão pessoal. De maneira semelhante a dúvida é também uma questão de decisão e deliberação. Quantos doutos você conhece que possuem fé? E quantos indoutos que não a possuem? Fé tem a ver com vontade, e não com conhecimento. Tem a ver também com graça – graça especial e graça salvadora. 

A maravilhosa graça que nos dá o conhecimento da Verdade e junto com ela o galardão da felicidade eterna.


Para saber mais:

Título: Socratismo e cristianismo em Kierkegaard: o escândalo e a loucura.
Editora: Annablume.
Autor: Marcio Gimenes de Paula.

Título: Migalhas Filosóficas.
Editora: Vozes.
Autor: Sören Kierkegaard.

Título: Ponto de Vista Explicativo da Minha Obra como Escritor.
Editora: Edições 70.
Autor: Sören Kierkegaard.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Menonitas no Brasil

Foto retirada do site: https://www.matraqueando.com.br/colonia-witmarsum-cafe-colonial-historia-alema-menonita-e-descanso-ao-lado-de-Curitiba .

Menno Simons foi o fundador de um grupo cristão anabatista que ficou conhecido como "menonita". Os menonitas faziam parte dos anabatistas, porque desconsiderando o batismo de crianças – que havia entrado na Igreja através dos escritos de Agostinho –, rebatizavam os cristãos que aceitavam a fé em idade adulta. 

Agostinho bispo de Hipona e importantíssimo pensador cristão, havia dito que as crianças nasciam em pecado, porque ao nascer traziam em si as marcas do pecado de Adão. Os anabatistas não pensavam assim. Ao contrário, achavam que só podia batizar-se aquele que estando de posse de sua razão, fosse capaz de escolher e discernir. Fazendo escolhas conscientes. Por isto, rebatizavam as pessoas desejosas de fazê-lo, quando manifestavam tal vontade em idade adulta. Já tendo, portanto, alcançado a "idade da razão".

Além de os menonitas rebatizarem os cristãos, eles também são pacifistas; não pegando em armas nem mesmo para defender-se. E, eles vivem da agricultura. Possuem um estilo de vida semelhante ao dos quakers e dos amish. Depois de várias migrações e imigrações, vieram instalar-se no sul do Brasil e fundaram a Colônia Witmarsum

Caso você decida ir até lá me chame e o acompanharei com prazer redobrado.

domingo, 21 de abril de 2019

Feliz Páscoa!

A última páscoa.
Pintor: Mestre de Housebook (c. 1480).

Exemplo da mesa que preparou em Grécio no dia da Páscoa. Como se mostrou um exemplo de Cristo como peregrino

Num dia de Páscoa, os frades prepararam no eremitério de Grécio uma mesa mais bonita, com toalhas e vidros. O pai desceu de sua cela, veio para a mesa, viu-a arrumada em lugar elevado e superfluamente enfeitada. Mas não sorriu com toda aquela alegria. Às escondidas e devagarinho, saiu, pôs na cabeça o chapéu de um pobre que lá estava, tomou um bordão e foi para fora. Esperou à porta até que os frades começaram a comer, porque estavam acostumados a não espera-lo quando não vinha ao sinal. Quando iniciaram o almoço, clamou como um verdadeiro pobre à porta: " Por amor de Deus, dai uma esmola a este peregrino pobre e doente". Os frades responderam: "Entra, homem, pelo amor daquele que invocaste". Entrou logo e se apresentou aos comensais. Que espanto provocou semelhante peregrino! Deram-lhe uma escudela, e ele se sentou à parte, pondo o prato na cinza. E disse: " Agora me sento como um frade menor". Dirigindo-se aos irmãos, disse: " Nós devemos nos deixar levar mais pela pobreza do Filho de Deus que pelas outras pessoas religiosas. Vi a mesa preparada e enfeitada, e vi que não era a dos pobres que pedem esmola de porta em porta". O fato demonstra que ele era semelhante àquele outro peregrino que ficou sozinho em Jerusalém nesse mesmo dia de Páscoa. Mas, quando falou, fez arder o coração de seus discípulos (trecho retirado de "Vida de São Francisco de Assis", escrita por Tomás de Celano, cap. XXXI, p. 125-126).

segunda-feira, 18 de março de 2019

Carta a Diogneto

Fonte: https://www.jw.org/pt/publicacoes/livros/historias-biblicas/1/jardim-do-eden/

"Deus criou os homens e, para eles, criou o mundo, submetendo-lhes tudo quanto há na terra. Deu-lhes a razão e a inteligência, sendo os homens os únicos animais que podem levantar a cabeça e olhar para cima, para que possam vê-Lo" (Carta a Diogneto IV, 65).

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Maria de Magdala

La Légende Dorée, escrita por Jacobus de Voragine.
Fonte: capa do livro da editora Gf-flammarion (1967). Edição de bolso.

"A lenda dourada" foi escrita por Tiago de Voragine em 1260. É um tratado medieval sobre a vida dos santos; e fala também sobre a vida da personagem que embora pouquíssimo mencionada no Novo Testamento, é envolta em muitas lendas e fantasias — Maria de Magdala (ou, Maria Madalena). A personagem de que menos se fala no Novo Testamento, mas que nossa imaginação soube preencher as lacunas de sua biografia como ninguém.

Alguns dizem que ela foi puta, outros que teria se casado com Jesus e tido filhos e família com ele. Outros dizem ainda que era mulher rica e financiou generosamente o ministério itinerante de Jesus. Mas afinal, o que é lenda e o que é história quando se trata de Maria Madalena — isto é, de Maria, da cidade de Magdala?

Outro dado importante é que diferente de Nazaré ou da Galiléia, Magdala era uma cidade grande voltada ao requinte e à diversão (tal como Las Vegas é para nós hoje).

E se por um lado possuímos hoje as fantasias outorgadas por peças teatrais, filmes hollywoodianos e romances, no medievo Madalena também ocupou lugar de destaque no imaginário popular. E alguns frades mendicantes tinham extrema devoção a ela: Madalena, a prostituta-santa.


Para saber mais:

Título: La Légende Dorée (ou, A lenda dourada).
Autor: Jacobus de Voragine.
Editora: Gf-flammarion.
Ano: 1967.

Título: Pedro, Paulo e Maria Madalena.
Autor: Bart D. Ehrman.
Editora: Record.
Ano: 2008.

Título: O Código da Vinci.
Autor: Dan Brown.
Editora: Sextante.
Ano: 2004. 

Musical: Jesus Cristo Superstar.
Direção: Tim Rice e Andrew Lloyd.
Broadway, 1971.

Filme: A última tentação de Cristo.
Direção: Martin Scorcese.
Ano: 1988.

Filme: Maria Madalena.
Direção: Garth Davis.
Ano: 2018.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Que tipo de espiritualidade sua igreja oferece?


Fonte: http://horseextrema.blogspot.com/p/como-fazer-um-cabresto.html

"Que tipo de espiritualidade sua igreja oferece?". Quase ninguém faz esta pergunta ao escolher uma comunidade ou igreja para frequentar, porém, ao matricularmos um filho na escola queremos logo saber que tipo de educação lhe darão ali; ou, ao irmos até uma academia de ginástica perguntamos como são os exercícios e que músculos do corpo serão privilegiados, e como serão os períodos de treino e descanso. Sendo assim, ao frequentarmos uma igreja deveríamos perguntar ao pastor ou presbítero: que tipo de espiritualidade sua igreja oferece?

Perguntar claro, com o devido respeito. Porque existem basicamente duas formas de oferecer espiritualidade.

A primeira e mais comum é o que chamo de "espiritualidade de cabresto". É quando a igreja ou o lugar que se frequenta é cheio de regras e doutrinas que impedem a espontaneidade própria da vida. E principalmente, quando lhe impedem de pensar livremente e segundo sua própria consciência.

Richard Sibbes, um importante teólogo anglicano dizia que a consciência é o juiz que Deus colocou em nós. Ora, se Deus já colocou dentro de nós um juiz, não precisamos de pastores nem ministros dizendo o que devemos fazer ou no que devemos acreditar. Porque o juiz de Deus em nós, isto é, nossa própria consciência, já está muito capacidade e aparamentada para dizer-nos o que fazer e no que acreditar. E, se porventura deslizarmos, ela também nos acusará e nos apontará o caminho de conversão (lembre aqui da imagem de um carro fazendo a conversão, ok? O juiz acenará apenas com uma singela placa de "vire esta esquina"; conversão = carro fazendo a conversão e mudando a rota).

Oferecer uma espiritualidade assim, de cabresto, é tratar as pessoas como crianças. Como se não fossem capazes por si mesmas de decidir o que é certo, no que acreditar e o que fazer com suas vidas. Uma espiritualidade assim infantiliza e poda o crescimento pessoal, emocional e espiritual das pessoas.

Porém, outra forma de espiritualidade que pode ser oferecida nas igrejas, mas que daria mais trabalho aos ministros por causa do controle, é o que chamo de "espiritualidade autônoma". Uma espiritualidade autônoma é construída no diálogo franco e honesto. Na livre construção das ideias e crenças. É quando os ministros e presbíteros ao invés de impor aos fiéis um jeito rígido e único de pensar e crer, os deixam livres para pensar e concluir tudo a seu modo. Ficam ali, apenas para orientar, mas jamais para dizer qual é a maneira certa de pensar ou crer. Isto vai de encontro ao ensino de Martinho Lutero que dizia não ser correto nem seguro ir contra a própria consciência; afirmando também que um simples leigo armado das Escrituras têm mais autoridade que o Papa sem ela (cito de cabeça). E, por papa, podemos dizer também presbíteros, pastores, bispos, apóstolos, etc.

Um ensino assim, ajuda a pensar e refletir. Ajuda a ler a Bíblia com espírito crítico, sem medo de fazer-lhe perguntas. Mas quais perguntas faríamos à Bíblia? Ora, as nossas perguntas. Não como se a Bíblia fosse um livro intocável, porém e justamente por ser Ela revelação de Deus, podemos nos sentir livres para perguntar-lhe várias coisas que nos incomodam hoje em dia. Perguntar sobre dinheiro, sexo, homoafetividade, trans, política, poder, renúncia, justiça, liberdade, amor e tudo o mais que quisermos.

Esta forma de espiritualidade é o que chamo de uma "espiritualidade autônoma", na qual as pessoas crescem em conhecimento e também como pessoas mesmo. Elas crescem em autoconhecimento, crescem emocionalmente (pois tem a chance de perceberem-se ao invés de tolherem-se com medo do castigo pastoral), e mesmo que errem, tem a promessa da Graça e do Amor incondicional de Deus.

Ao adentrar os átrios de uma igreja pergunte então "que tipo de espiritualidade ela oferece?". E cuidado com os ensinos e espiritualidades que ao invés de outorgar autonomia, tolhem e infantilizam você.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Como escolher uma boa igreja para frequentar?

Fonte: https://www.sigloc.com.br/como-faco-para-abrir-uma-igreja-ou-regularizar-minha/

1. Escolha uma igreja PEQUENA ou MÉDIA, aonde o pastor ou presbítero SAIBA QUEM VOCÊ É. Assim, você será acolhido tanto na comunidade quanto em suas necessidades (seja pelo pastor, seja pelo diácono). Igrejas locais e igrejas de bairro costumam ser uma boa pedida.

O corpo ministerial é geralmente composto de pessoas sérias e o pastor ganha um salário mínimo para cuidar da comunidade. Oferecendo aconselhamento pastoral, realizando visita aos enfermos da comunidade, fazendo serviços de funerais e lecionando na escola bíblica dominical. Além é claro, do diácono, que zela pelos mais pobres daquela comunidade.

2. Observe o pastor e o corpo ministerial. Tente perceber qual é a preocupação principal. Mas qual deve ser? Servir. Jesus ensinou que quem deseja ser o maior deve SERVIR. Quem ama se coloca disponível, quem ama serve. Veja se o corpo ministerial está preocupado com o cuidado e desenvolvimento dos talentos de CADA membro da comunidade.

Se eles cuidam e ensinam os jovens. Cuidam dos casais e daqueles que pedem aconselhamento pastoral. Se cuidam de maneira séria os eventuais dependentes químicos que buscam auxílio naquela comunidade local.

Perceba a clara diferença entre um ministério que cuida de você, de outro que não cuida de você. E, mormente, veja se naquele lugar há cultivo e busca de amor fraternal.

Obs: prefira sempre igrejas que não desejam crescer. O crescimento de uma igreja acabará por solapar o espírito comunitário.

3. Fuja das mega-igrejas e mega-templos. Eles NÃO SÃO comunidades; funcionam mais como empresas. Ali você não será tratado como pessoa, mas como freguês. Além de esse tipo de igreja NÃO ser comunidade, parecendo-se mais a rodoviárias, porque as pessoas que ali estão, estão só de passagem.

E uma comunidade não consegue formar-se num lugar de passagem. Ninguém forma vínculo afetivo, nem aprende a cuidar do outro num lugar de passagem ou numa "trombada" no meio da rua.

Uma comunidade para formar-se, precisa de um solo sólido tal como uma casa ou uma terra parada. Para as pessoas conviverem e terem tempo suficiente de conhecerem-se, de tal modo a formarem vínculos de afeto e cuidado mútuos.

Outrossim, as igrejas cuja lógica interna é a mesma de uma empresa, focando na multiplicação de templos, em curas e milagres, terão boa chance de arruinar sua vida (financeira e emocionalmente).
FUJA (!) das mega-igrejas e do seu canto de sereia.

4. Prefira igrejas cuja caixa do contribuinte não seja o foco principal. Ou igrejas que mesmo sendo dizimistas não olhem de soslaio (torto) para o membro que não colaborou no mês.

Mas se for ter que escolher, dê sempre preferência para igrejas cuja contribuição é anônima e voluntária. "Porque Deus que vê em segredo recompensará a cada um de vocês" (Mateus 5: 6).

5. Por fim e sendo muito direto, diríamos: escolha uma igreja local ou de bairro. Uma igreja de linha histórica ou pentecostal (daquelas antigas). Nada desses mega-templos que você vê na TV.

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Correio eletrônico




Fonte: https://pixabay.com/pt/envelope-ícone-letra-e-mail-2022710/


Você é cristão? Tem alguma sugestão, dúvida ou curiosidade sobre a igreja ou a Bíblia? Envie-nos um e-mail: 

zepchadan@outlook.com .

Até breve.

A última tentação de Cristo

Fonte: capa do filme "A última tentação de Cristo" dirigido por Matin Scorsese (1988).

"A última tentação de Cristo" é um filme que tenta compreender a humanidade de Jesus de Nazaré. O filme mostra um Jesus muito parecido conosco. Cheio de medos, dúvidas, incertezas e padecimentos. 

O título do filme nos remete às últimas cenas dos Evangelhos. Quando Jesus enfim foi crucificado e estava pronto para encerrar e cumprir sua missão, ele cede à última tentação. Mas qual foi mesmo a última tentação de Cristo? Quando já pendurado no madeiro e faltando muito pouco para completar a missão que o Pai havia lhe dado, as pessoas caçoavam e diziam-lhe: " (...) mostra agora seu poder. Salve-se! Se você é mesmo o Filho de Deus, desça da cruz" (Mateus 27: 35-40).

Então Jesus desce da cruz. Casa-se com Maria de Magdala (Madalena) e forma uma família. Envelhece como um homem normal e, já doente, Judas entra em seu quarto reclamando por sentir-se gravemente traído. No filme não é Judas quem vende Jesus por trinta moedas, mas Jesus quem trai seus discípulos, não cumprindo sua promessa.

Um filme impressionante e que ajuda a refletir sobre a condição humana de Jesus e porque não, também a nossa.

Compreendendo o homem, Jesus

Fonte: capa do livro "O Evangelho segundo Jesus Cristo" escrito por José Saramago e editado pela Editorial Caminho.

O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO — José Saramago.

"O Evangelho Segundo Jesus Cristo", escrito por José Saramago, é um romance aonde o autor tece a vida de Jesus mostrando-o desde a meninice. A maneira como ele via os soldados romanos indo e vindo em sua pobre cidadezinha e, nas ruas, toda sorte de gente pendurada em cruzes de madeira. Gente considerada marginal, e condenada a pena capital que era costume da época.

Jesus vai ao templo, como qualquer menino judeu, para aprender a Torá (os cinco rolos do Antigo Testamento), e mais tarde compreende qual seria sua verdadeira tarefa e missão. Sua relação ruim com sua mãe Maria; uma vez que na qualidade de filho mais velho ele deveria assumir a responsabilidade de sustento da casa, porém ele prefere sair por aí, de maneira itinerante pregando sua Mensagem. Sem ter aonde pousar a cabeça e descansar.

Um romance impressionante e cheio de sutilezas. Com um pouco de imaginação, José Saramago tenta "preencher" as lacunas deixadas pelos quatro evangelistas acerca da biografia de Jesus. E ao invés de dar-nos uma visão "de cima", prefere dar-nos uma visão "de baixo" sobre quem foi Jesus de Nazaré. O que em teologia se chama: alta cristologia e baixa cristologia.



Eu, por particularidade, aprecio tanto a alta quanto a baixa cristologia. A alta cristologia compreende que Jesus é Deus encarnado, homem perfeito e sem pecado. Ao passo que a baixa cristologia procura olhar a humanidade de Jesus: um judeu do século primeiro, vivendo como judeu, experimentando por um lado a opressão da elite religiosa de seu próprio povo que vendia-se para ter conforto e regalias, e por outro, experimentando a opressão romana do imperador e seus soldados. 



Um homem que, tendo crescido assim, num povoado sem perspectivas e massacrado, poderia ter sido facilmente cooptado pelos zelotas — rebeldes armados que queriam fazer uma revolução. Poderia também entrar para a comunidade dos saduceus ou para a comunidade dos essênios que viviam distantes dos centro urbanos esperando a vinda Dele mesmo, Jesus, e o consequente fim do mundo.



E
é este o cenário que o garoto Jesus percebia: elite religiosa e Roma oprimindo seu povo. E diante disto o que fazer (arrazoava ele): posso juntar-me aos rebeldes zelotas, aos fariseus (bah! nem pensar), aos saduceus ou aos essênios. Ou posso arrumar uma esposa e casar-me como qualquer judeu pobre daqui de Nazaré. 



Enfim, usar um pouco de imaginação apoiado em boas leituras nos ajudam a compreender um pouco mais sobre a humanidade de Jesus. Afinal, um homem como nós, que lutou contra suas tendências e fraquezas antes que pudéssemos dizer em alto e bom som: Ele é Deus conosco, o Emanuel.