terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Maria de Magdala

La Légende Dorée, escrita por Jacobus de Voragine.
Fonte: capa do livro da editora Gf-flammarion (1967). Edição de bolso.

"A lenda dourada" foi escrita por Tiago de Voragine em 1260. É um tratado medieval sobre a vida dos santos; e fala também sobre a vida da personagem que embora pouquíssimo mencionada no Novo Testamento, é envolta em muitas lendas e fantasias — Maria de Magdala (ou, Maria Madalena). A personagem de que menos se fala no Novo Testamento, mas que nossa imaginação soube preencher as lacunas de sua biografia como ninguém.

Alguns dizem que ela foi puta, outros que teria se casado com Jesus e tido filhos e família com ele. Outros dizem ainda que era mulher rica e financiou generosamente o ministério itinerante de Jesus. Mas afinal, o que é lenda e o que é história quando se trata de Maria Madalena — isto é, de Maria, da cidade de Magdala?

Outro dado importante é que diferente de Nazaré ou da Galiléia, Magdala era uma cidade grande voltada ao requinte e à diversão (tal como Las Vegas é para nós hoje).

E se por um lado possuímos hoje as fantasias outorgadas por peças teatrais, filmes hollywoodianos e romances, no medievo Madalena também ocupou lugar de destaque no imaginário popular. E alguns frades mendicantes tinham extrema devoção a ela: Madalena, a prostituta-santa.


Para saber mais:

Título: La Légende Dorée (ou, A lenda dourada).
Autor: Jacobus de Voragine.
Editora: Gf-flammarion.
Ano: 1967.

Título: Pedro, Paulo e Maria Madalena.
Autor: Bart D. Ehrman.
Editora: Record.
Ano: 2008.

Título: O Código da Vinci.
Autor: Dan Brown.
Editora: Sextante.
Ano: 2004. 

Musical: Jesus Cristo Superstar.
Direção: Tim Rice e Andrew Lloyd.
Broadway, 1971.

Filme: A última tentação de Cristo.
Direção: Martin Scorcese.
Ano: 1988.

Filme: Maria Madalena.
Direção: Garth Davis.
Ano: 2018.


segunda-feira, 25 de fevereiro de 2019

Que tipo de espiritualidade sua igreja oferece?


Fonte: http://horseextrema.blogspot.com/p/como-fazer-um-cabresto.html

"Que tipo de espiritualidade sua igreja oferece?". Quase ninguém faz esta pergunta ao escolher uma comunidade ou igreja para frequentar, porém, ao matricularmos um filho na escola queremos logo saber que tipo de educação lhe darão ali; ou, ao irmos até uma academia de ginástica perguntamos como são os exercícios e que músculos do corpo serão privilegiados, e como serão os períodos de treino e descanso. Sendo assim, ao frequentarmos uma igreja deveríamos perguntar ao pastor ou presbítero: que tipo de espiritualidade sua igreja oferece?

Perguntar claro, com o devido respeito. Porque existem basicamente duas formas de oferecer espiritualidade.

A primeira e mais comum é o que chamo de "espiritualidade de cabresto". É quando a igreja ou o lugar que se frequenta é cheio de regras e doutrinas que impedem a espontaneidade própria da vida. E principalmente, quando lhe impedem de pensar livremente e segundo sua própria consciência.

Richard Sibbes, um importante teólogo anglicano dizia que a consciência é o juiz que Deus colocou em nós. Ora, se Deus já colocou dentro de nós um juiz, não precisamos de pastores nem ministros dizendo o que devemos fazer ou no que devemos acreditar. Porque o juiz de Deus em nós, isto é, nossa própria consciência, já está muito capacidade e aparamentada para dizer-nos o que fazer e no que acreditar. E, se porventura deslizarmos, ela também nos acusará e nos apontará o caminho de conversão (lembre aqui da imagem de um carro fazendo a conversão, ok? O juiz acenará apenas com uma singela placa de "vire esta esquina"; conversão = carro fazendo a conversão e mudando a rota).

Oferecer uma espiritualidade assim, de cabresto, é tratar as pessoas como crianças. Como se não fossem capazes por si mesmas de decidir o que é certo, no que acreditar e o que fazer com suas vidas. Uma espiritualidade assim infantiliza e poda o crescimento pessoal, emocional e espiritual das pessoas.

Porém, outra forma de espiritualidade que pode ser oferecida nas igrejas, mas que daria mais trabalho aos ministros por causa do controle, é o que chamo de "espiritualidade autônoma". Uma espiritualidade autônoma é construída no diálogo franco e honesto. Na livre construção das ideias e crenças. É quando os ministros e presbíteros ao invés de impor aos fiéis um jeito rígido e único de pensar e crer, os deixam livres para pensar e concluir tudo a seu modo. Ficam ali, apenas para orientar, mas jamais para dizer qual é a maneira certa de pensar ou crer. Isto vai de encontro ao ensino de Martinho Lutero que dizia não ser correto nem seguro ir contra a própria consciência; afirmando também que um simples leigo armado das Escrituras têm mais autoridade que o Papa sem ela (cito de cabeça). E, por papa, podemos dizer também presbíteros, pastores, bispos, apóstolos, etc.

Um ensino assim, ajuda a pensar e refletir. Ajuda a ler a Bíblia com espírito crítico, sem medo de fazer-lhe perguntas. Mas quais perguntas faríamos à Bíblia? Ora, as nossas perguntas. Não como se a Bíblia fosse um livro intocável, porém e justamente por ser Ela revelação de Deus, podemos nos sentir livres para perguntar-lhe várias coisas que nos incomodam hoje em dia. Perguntar sobre dinheiro, sexo, homoafetividade, trans, política, poder, renúncia, justiça, liberdade, amor e tudo o mais que quisermos.

Esta forma de espiritualidade é o que chamo de uma "espiritualidade autônoma", na qual as pessoas crescem em conhecimento e também como pessoas mesmo. Elas crescem em autoconhecimento, crescem emocionalmente (pois tem a chance de perceberem-se ao invés de tolherem-se com medo do castigo pastoral), e mesmo que errem, tem a promessa da Graça e do Amor incondicional de Deus.

Ao adentrar os átrios de uma igreja pergunte então "que tipo de espiritualidade ela oferece?". E cuidado com os ensinos e espiritualidades que ao invés de outorgar autonomia, tolhem e infantilizam você.

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Como escolher uma boa igreja para frequentar?

Fonte: https://www.sigloc.com.br/como-faco-para-abrir-uma-igreja-ou-regularizar-minha/

1. Escolha uma igreja PEQUENA ou MÉDIA, aonde o pastor ou presbítero SAIBA QUEM VOCÊ É. Assim, você será acolhido tanto na comunidade quanto em suas necessidades (seja pelo pastor, seja pelo diácono). Igrejas locais e igrejas de bairro costumam ser uma boa pedida.

O corpo ministerial é geralmente composto de pessoas sérias e o pastor ganha um salário mínimo para cuidar da comunidade. Oferecendo aconselhamento pastoral, realizando visita aos enfermos da comunidade, fazendo serviços de funerais e lecionando na escola bíblica dominical. Além é claro, do diácono, que zela pelos mais pobres daquela comunidade.

2. Observe o pastor e o corpo ministerial. Tente perceber qual é a preocupação principal. Mas qual deve ser? Servir. Jesus ensinou que quem deseja ser o maior deve SERVIR. Quem ama se coloca disponível, quem ama serve. Veja se o corpo ministerial está preocupado com o cuidado e desenvolvimento dos talentos de CADA membro da comunidade.

Se eles cuidam e ensinam os jovens. Cuidam dos casais e daqueles que pedem aconselhamento pastoral. Se cuidam de maneira séria os eventuais dependentes químicos que buscam auxílio naquela comunidade local.

Perceba a clara diferença entre um ministério que cuida de você, de outro que não cuida de você. E, mormente, veja se naquele lugar há cultivo e busca de amor fraternal.

Obs: prefira sempre igrejas que não desejam crescer. O crescimento de uma igreja acabará por solapar o espírito comunitário.

3. Fuja das mega-igrejas e mega-templos. Eles NÃO SÃO comunidades; funcionam mais como empresas. Ali você não será tratado como pessoa, mas como freguês. Além de esse tipo de igreja NÃO ser comunidade, parecendo-se mais a rodoviárias, porque as pessoas que ali estão, estão só de passagem.

E uma comunidade não consegue formar-se num lugar de passagem. Ninguém forma vínculo afetivo, nem aprende a cuidar do outro num lugar de passagem ou numa "trombada" no meio da rua.

Uma comunidade para formar-se, precisa de um solo sólido tal como uma casa ou uma terra parada. Para as pessoas conviverem e terem tempo suficiente de conhecerem-se, de tal modo a formarem vínculos de afeto e cuidado mútuos.

Outrossim, as igrejas cuja lógica interna é a mesma de uma empresa, focando na multiplicação de templos, em curas e milagres, terão boa chance de arruinar sua vida (financeira e emocionalmente).
FUJA (!) das mega-igrejas e do seu canto de sereia.

4. Prefira igrejas cuja caixa do contribuinte não seja o foco principal. Ou igrejas que mesmo sendo dizimistas não olhem de soslaio (torto) para o membro que não colaborou no mês.

Mas se for ter que escolher, dê sempre preferência para igrejas cuja contribuição é anônima e voluntária. "Porque Deus que vê em segredo recompensará a cada um de vocês" (Mateus 5: 6).

5. Por fim e sendo muito direto, diríamos: escolha uma igreja local ou de bairro. Uma igreja de linha histórica ou pentecostal (daquelas antigas). Nada desses mega-templos que você vê na TV.

sábado, 16 de fevereiro de 2019

Correio eletrônico




Fonte: https://pixabay.com/pt/envelope-ícone-letra-e-mail-2022710/


Você é cristão? Tem alguma sugestão, dúvida ou curiosidade sobre a igreja ou a Bíblia? Envie-nos um e-mail: 

zepchadan@outlook.com .

Até breve.

A última tentação de Cristo

Fonte: capa do filme "A última tentação de Cristo" dirigido por Matin Scorsese (1988).

"A última tentação de Cristo" é um filme que tenta compreender a humanidade de Jesus de Nazaré. O filme mostra um Jesus muito parecido conosco. Cheio de medos, dúvidas, incertezas e padecimentos. 

O título do filme nos remete às últimas cenas dos Evangelhos. Quando Jesus enfim foi crucificado e estava pronto para encerrar e cumprir sua missão, ele cede à última tentação. Mas qual foi mesmo a última tentação de Cristo? Quando já pendurado no madeiro e faltando muito pouco para completar a missão que o Pai havia lhe dado, as pessoas caçoavam e diziam-lhe: " (...) mostra agora seu poder. Salve-se! Se você é mesmo o Filho de Deus, desça da cruz" (Mateus 27: 35-40).

Então Jesus desce da cruz. Casa-se com Maria de Magdala (Madalena) e forma uma família. Envelhece como um homem normal e, já doente, Judas entra em seu quarto reclamando por sentir-se gravemente traído. No filme não é Judas quem vende Jesus por trinta moedas, mas Jesus quem trai seus discípulos, não cumprindo sua promessa.

Um filme impressionante e que ajuda a refletir sobre a condição humana de Jesus e porque não, também a nossa.

Compreendendo o homem, Jesus

Fonte: capa do livro "O Evangelho segundo Jesus Cristo" escrito por José Saramago e editado pela Editorial Caminho.

O EVANGELHO SEGUNDO JESUS CRISTO — José Saramago.

"O Evangelho Segundo Jesus Cristo", escrito por José Saramago, é um romance aonde o autor tece a vida de Jesus mostrando-o desde a meninice. A maneira como ele via os soldados romanos indo e vindo em sua pobre cidadezinha e, nas ruas, toda sorte de gente pendurada em cruzes de madeira. Gente considerada marginal, e condenada a pena capital que era costume da época.

Jesus vai ao templo, como qualquer menino judeu, para aprender a Torá (os cinco rolos do Antigo Testamento), e mais tarde compreende qual seria sua verdadeira tarefa e missão. Sua relação ruim com sua mãe Maria; uma vez que na qualidade de filho mais velho ele deveria assumir a responsabilidade de sustento da casa, porém ele prefere sair por aí, de maneira itinerante pregando sua Mensagem. Sem ter aonde pousar a cabeça e descansar.

Um romance impressionante e cheio de sutilezas. Com um pouco de imaginação, José Saramago tenta "preencher" as lacunas deixadas pelos quatro evangelistas acerca da biografia de Jesus. E ao invés de dar-nos uma visão "de cima", prefere dar-nos uma visão "de baixo" sobre quem foi Jesus de Nazaré. O que em teologia se chama: alta cristologia e baixa cristologia.



Eu, por particularidade, aprecio tanto a alta quanto a baixa cristologia. A alta cristologia compreende que Jesus é Deus encarnado, homem perfeito e sem pecado. Ao passo que a baixa cristologia procura olhar a humanidade de Jesus: um judeu do século primeiro, vivendo como judeu, experimentando por um lado a opressão da elite religiosa de seu próprio povo que vendia-se para ter conforto e regalias, e por outro, experimentando a opressão romana do imperador e seus soldados. 



Um homem que, tendo crescido assim, num povoado sem perspectivas e massacrado, poderia ter sido facilmente cooptado pelos zelotas — rebeldes armados que queriam fazer uma revolução. Poderia também entrar para a comunidade dos saduceus ou para a comunidade dos essênios que viviam distantes dos centro urbanos esperando a vinda Dele mesmo, Jesus, e o consequente fim do mundo.



E
é este o cenário que o garoto Jesus percebia: elite religiosa e Roma oprimindo seu povo. E diante disto o que fazer (arrazoava ele): posso juntar-me aos rebeldes zelotas, aos fariseus (bah! nem pensar), aos saduceus ou aos essênios. Ou posso arrumar uma esposa e casar-me como qualquer judeu pobre daqui de Nazaré. 



Enfim, usar um pouco de imaginação apoiado em boas leituras nos ajudam a compreender um pouco mais sobre a humanidade de Jesus. Afinal, um homem como nós, que lutou contra suas tendências e fraquezas antes que pudéssemos dizer em alto e bom som: Ele é Deus conosco, o Emanuel. 



sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

Só existe fanatismo dentro das religiões?

Fonte: https://pt.pngtree.com/freepng/tablespoon-oil_3350638.html

Originalmente o termo fanatismo remonta a palavra latina "fanum" que significa templo. Fanático, portanto, teria relação com alguém que está no templo e possuído por Deus ou por alguma outra divindade. Por estar possuído por Deus, o fanático estaria imune ao mal e aos erros. Fanatismo teria a ver então com entusiasmo e com "estar possuído". Na modernidade, secularizada, fanatismo tem relação com a pessoa que ao falar, pretende que sua fala seja absoluta e incontestável.

Mais aí vai uma coisa importante: o FANATISMO não está presente apenas nas religiões. O fanatismo está em todas as áreas, porque o fanatismo é uma capacidade humana. Troquemos FANATISMO por RADICALISMO para compreendermos melhor.

Há religiosos moderados e religiosos radicais (fanáticos, donos da verdade e com falas absolutas e incontestáveis). Maaaas, há também políticos fanáticos, cientistas fanáticos, feministas fanáticas, e em todas as áreas da vida encontraremos um fanático - alguém que, tomado pelo entusiasmo ou possuído, acha-se absoluto e incontestável.

Logo, o fanatismo não está só nas religiões, mas está no homem e faz parte de sua constituição. Mais moderação por favor. Mais dúvidas sadias e menos certezas absolutas. As dúvidas produzem uma espécie de humildade no conhecimento e uma simpatia maior pelas pessoas.

TOME UMA COLHER DE DÚVIDA TODOS OS DIAS E SERÁ UM BOM REMÉDIO.

Para saber mais:

Verbete: Fanatismo
Dicionário de Filosofia
Nicola Abbagnano.

Jesus também era professor. Feliz dia dos professores.

Fonte: https://sagresonline.com.br/noticias/entretenimento/61640-morre-ruben-aguirre-o-professor-girafales-do-seriado-chaves

*Texto publicado no Facebook. 
São Paulo, 15 de outubro do ano de 2018.



Quase ninguém se lembra, mas Sócrates e Jesus eram professores. Sócrates ensinava de que seu único conhecimento era que não sabia nada, e Jesus ensinava sobre uma nova interpretação da lei de Moisés e sobre a Graça e o reino de Deus.



Mas qual a semelhança entre eles? O método pelo qual ensinavam. Ambos ensinavam fazendo perguntas.  Não davam respostas prontas, nem tabelas ou coisa assim. Eles faziam perguntas. Mostrando que ensinar e professorar corresponde não a saber as respostas, e sim em saber elaborar perguntas. As perguntas certas. As perguntas pertinentes e importantes.

Sócrates não cobrava por suas aulas e seus detratores diziam que assim o fazia porque de fato nada ensinava. Ele só perguntava, perguntava e não poucas vezes deixava seus alunos e ouvintes cheios de dúvidas. Ele não dava respostas. Só fazia perguntas. Jesus, semelhantemente, quando questionado sobre a lei e os profetas, respondia perguntando.

Ao perguntar, ambos professores ensinavam que a resposta vem de dentro e que é preciso busca-las dentro e não fora de si. Perguntando você iniciará uma jornada interior, para dentro de você. A verdade está dentro de você e ela te libertará. Te libertará do quê? Te libertará daquilo que não é você. Daquilo que não é para você. Te ajudará a tornar-se um indivíduo. A tornar-se quem você é. A individualizar-se e a tornar-se único.

E em tornando-se você quem você é, suas potencialidades que estão dentro e não fora, irão desenvolver-se de tal modo que você encontre paz e felicidade naquilo que faz. O pastor encontra sua felicidade pastoreando, o cavaleiro cavalgando, o médico medicando, o professor "professorando" e o menino "meninando".

A tarefa do professor é portanto, ensinar a perguntar e olhar para dentro. Antes de ensinar conteúdos, deve ele, ensinar de maneira humana. Olhando para dentro e para as pessoas como indivíduos muito singulares.

Feliz dia dos professores a todos os que ensinam com amor e dedicação.

Respostas que a Bíblia não dá ao sofrimento

Fonte: https://br.pinterest.com/pin/384354149421436292/


O sofrimento e a existência do mal no mundo em que vivemos é uma das mais importantes, senão a mais importante questão para a filosofia da religião. É aquilo que os filósofos da religião costumam chamar de "teodiceia" ou "problema do mal". O problema do mal pode resumir-se assim: 



Se Deus é bom e todo-poderoso, mas existe mal e sofrimento no mundo, então ou Deus não é bom ou não é todo poderoso.
Ou Deus não é bom, porque podendo eliminar o mal do mundo não o elimina; ou não é todo-poderoso, porque efetivamente não pode eliminar o mal do mundo.



A tradição judaico-cristã tentará solucionar o problema do mal apontando algumas possíveis respostas:



1. O mal e o sofrimento são punição de Deus para o pecado do povo (explicação dada pelos profetas).



2. O mal e o sofrimento são causados pelos homens quando estes querem oprimir e agredir seus semelhantes (outra explicação dada pelos profetas).



3. O sofrimento é um teste que Deus faz para ver se permaneceremos fiéis. Teste de fidelidade #sóquenão (livro de Jó).


4. Não temos como responder a questão do mal e do sofrimento, pois ela esbarra em nossas limitações de compreensão e entendimento (Salomão ou o autor de Eclesiastes).



Quando eu era mais jovem tais questões quase me fizeram perder a fé. Entretanto algumas descobertas me fizeram recobrá-la. Ela renasceu como uma fé nova e experimentada. Não mais uma fé ingênua, porém uma fé experimentada e amadurecida:



* Descobri que para o cristianismo, entronar a Razão tal como fizeram os meu pares-filósofos de outrora, equivale a tropeçar na arrogância e na soberba. E, como dizia Agostinho: "a soberba é a raiz de todos os males". A soberba leva-nos a tratar mal os semelhantes uma vez que julgamo-nos superiores. 


* Conheci a teologia negativa. Existem fundamentalmente duas formas de se fazer teologia: teologia afirmativa e teologia negativa. Enquanto a teologia afirmativa busca compreender Deus via razão e inteligência natural, a teologia negativa diz que não se pode conhecê-Lo por tais meios. Isto porque por mais elaborados que forem os raciocínios ou as metáforas utilizadas, elas sempre estarão muito aquém daquilo que Deus realmente é. 


Observe, por exemplo, um argumento da Suma de São Tomás ou uma escultura de Aleijadinho. Por mais que busquem dizer ou comunicar algo sobre a divindade, eles nunca conseguem dizer tudo o que almejam. Deus está para além dos raciocínios e das metáforas. Ou, dito de outro modo "Deus está para além de Deus". 


Então quando formos falar sobre Deus é melhor tomarmos cautela e falarmos apenas negativamente. Ao invés de tentar descrever o Inefável, falemos apenas assim: Deus não é isso, não é aquilo, nem aquilo outro. Afinal, tudo o que podemos saber sobre Deus é o que Ele não é. Já que no mundo aparente, nada se parece ou APARECE semelhante a Deus.


Cabe portanto, aproximarmo-nos do Mistério não mais via razão e conhecimento, e sim, pelo silêncio e amor.


* Deus não existe. Compreendi definitivamente que Deus não existe. Deus não existe tal como uma cadeira, uma mesa ou uma pessoa existem. Isto porque Deus é de outra ordem; uma ordem que está para além da existência. Deus não é da ordem do existir; Deus é da ordem do Ser. DEUS NÃO EXISTE, DEUS É. E eu? Bem,... eu oro para Ele todos os dia, seguindo a orientação de Jean-Yves Leloup.


* E, finalmente, compreendi que o problema do mal não pode ser resolvido teoricamente. Se você está realmente incomodado com o mal e o sofrimento, vá as ruas e dê comida a quem tem fome; vá aos presídios e conforte os presos; vá aos lugares carentes e periferias, pois é compadecendo-se do próximo que você efetivamente coopera com Deus para restaurar um mundo tão sofrido e marcado pelo mal.


* Aquele que sofre não precisa de teorias sobre o problema do mal, e sim de um abraço. Então, abrace hoje quem estiver perto de você!


Para saber mais:


Título: Deus não existe!... eu rezo para ele todos os dias.
Autor: Jean-yves Leloup.
Editora: Vozes.


Título: O Problema com Deus: As respostas que a Bíblia não dá ao sofrimento.

Autor: Bart D. Ehrman.
Editora: Agir.